O novo estudo de compras sazonais da Simon-Kucher revela mudanças importantes no comportamento, especialmente no Brasil, que se destaca como um dos mercados mais dinâmicos, digitais e dependentes de promoções de toda a região.
A seguir, analisamos as principais tendências, com foco no Brasil e suas diferenças mais marcantes em relação aos outros países pesquisados: Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru.
1. Gastos em alta — com o Brasil à frente do crescimento
Embora os consumidores participem de menos eventos promocionais na comparação com 2024, aqueles que pretendem comprar este ano planejam gastar de 5% a 22% mais. No Brasil, o aumento projetado é de +17%, bem acima de outros mercados, como Chile e Argentina.
O que explica esse comportamento?
O consumidor brasileiro demonstra:
- forte disposição a aproveitar promoções,
- maior dependência de descontos, tanto em itens essenciais quanto não essenciais,
- participação relativamente acima da média em grandes eventos (2,5 eventos ao ano; só o Peru participa mais).
Enquanto isso, mercados como Argentina, Chile e Colômbia já reduziram sua frequência de compras, pressionados por inflação persistente e menor confiança.
2. Inflação e promoções: o Brasil é o país mais dependente de descontos
Em toda a região, cerca de 70% dos consumidores estão gastando menos em produtos não essenciais ou dependendo mais de promoções. Mas o Brasil se destaca como o país onde:
- mais consumidores afirmam depender de eventos promocionais para comprar itens essenciais e não essenciais;
- A busca por códigos de desconto online é a mais alta entre todos os países estudados (55% dos consumidores, vs. média de 28%)
Comparativamente:
- Argentina e Chile reduzem a frequência de compras, um comportamento menos observado no Brasil;
- Colômbia lidera o uso de hard-discounters, enquanto o brasileiro procura ofertas específicas, independentemente da loja ou marca
3. Meios de pagamento: o Pix muda o jogo no Brasil
O estudo confirma que o Brasil é hoje o país mais digitalizado da região em meios de pagamento. Entre os brasileiros, o Pix já supera o cartão de débito, algo não observado em nenhum outro mercado latino-americano.
Enquanto:
- Chile, Colômbia e México ainda dependem fortemente de cartão de débito;
- Peru se destaca pela alta adoção de carteiras digitais e QR, como o Yape;
… no Brasil, a rápida evolução de pagamentos instantâneos ressalta o espaço para estratégias de cashback, fidelidade digital e promoções vinculadas a meios de pagamento. Isso acontece em paralelo a uma adoção relativamente alta do cartão de crédito como meio de pagamento (65% vs. média de 52% do conjunto de países).
4. Oferta ideal: desconto é importante, mas não basta
A maioria dos latino-americanos espera descontos de até 25% na temporada, com uma parcela significativa dos consumidores indicando também 40% como esperados em itens de ticket mais alto.
Quando olhamos por categoria:
- Moda, viagens e experiências são as que concentram expectativas de descontos mais agressivos;
- Móveis, produtos de beleza e cuidados pessoais, especialmente no Brasil e na Colômbia, são menos sensíveis a descontos; marca e qualidade pesam mais.
Em contraste:
- Bens de consumo e produtos duráveis para o lar são altamente sensíveis a descontos, sobretudo na Argentina, Chile e Peru;
- no Brasil, itens como móveis têm elasticidade menor, mas eletrônicos e pequenos eletrodomésticos continuam entre os grandes motores de busca por promoções.
5. O Brasil é exceção no uso de promoções relâmpago
Um dos achados mais interessantes do estudo é que promoções relâmpago geram impacto positivo em menos de 30% dos consumidores da região... exceto no Brasil.
Nos demais mercados, há:
- rejeição por pressão de tempo,
- desconfiança sobre urgência artificial (“últimas unidades”),
- sensação de “cansaço promocional”.
O brasileiro, porém, demonstra:
- mais abertura a esse tipo de estímulo,
- maior tendência a procurar esse formato ativamente,
- maior propensão a converter compras sob esse gatilho.
Isso reforça por que o Brasil é um mercado onde campanhas táticas (push notifications, timers, ofertas exclusivas) têm performance superior.
6. Canais: o Brasil lidera uso de marketplaces e omnichannel
O gráfico comparativo do estudo mostra que:
- marketplaces são o formato mais popular da região, exceto no Peru, e o Brasil está entre os líderes do seu uso tanto para pesquisa quanto para compra;
- lojas de departamento são muito fortes no Chile e no México, mas menos relevantes para a Gen Z brasileira.
7. IA nas compras: o Brasil é o país mais intensivo da América Latina
Mais de 60% dos compradores latino-americanos usam IA de alguma forma nas compras sazonais. O recorte por país revela:
- Brasil é o maior usuário, com proporção significativamente acima dos vizinhos;
- Argentina e Chile têm a maior rejeição (aproximadamente 50% não utilizam IA);
- Colômbia e México apresentam adoção intermediária.
Os principais usos da IA no Brasil são:
- buscar o menor preço entre varejistas,
- receber recomendações personalizadas,
- rastrear ofertas e criar alertas automáticos.
A rejeição, bem menor no Brasil que no restante da região, está ligada principalmente à percepção de “falta de autenticidade”, especialmente entre consumidores mais velhos.
8. Gerações: jovens brasileiros são heavy users de digital, IA e redes sociais
A Geração Z na América Latina:
- utiliza menos lojas de departamento,
- prefere redes sociais e sites de marca,
- demonstra penetração de IA cerca de 35% maior que as demais gerações.
No Brasil, essas tendências são ainda mais pronunciadas:
- redes sociais ganham força como fonte de descoberta,
- marketplaces e e-commerce multimarcas continuam como principal canal de compra,
- cerca de 60% da Gen Z e Millennials brasileiros se dizem influenciados por criadores de conteúdo — valor bem acima da média regional (50%).
Conclusão: o Brasil é o mercado mais promocional, digital e aberto a inovação da região
O estudo mostra que o consumidor brasileiro está:
- Concentrando compras em eventos promocionais, com projeção de +17% no gasto vs. 2024;
- mais dependente de promoções, inclusive para itens essenciais;
- mais digitalizado, com o Pix superando o débito;
- mais aberto a IA, ofertas relâmpago e influenciadores;
- mais orientado a marketplaces, sem abandonar canais de marca.
Esses comportamentos revelam um mercado acelerado, competitivo e em constante transformação, no qual varejistas que combinam personalização, inteligência de preços e estratégias omnichannel conseguem capturar crescimento mesmo em anos desafiadores.
Quer entender como aplicar essas tendências à sua estratégia comercial?
A equipe da Simon-Kucher está à disposição para apoiar varejistas e marcas na definição do melhor mix promocional, estratégia de desconto, política de preços, segmentação de clientes e orquestração omnichannel.
Vamos conversar.
